quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A VIDA NAS ÁGUAS DAS MONTANHAS

                                    A VIDA NAS ÁGUAS DAS MONTANHAS
Resumo do texto A VIDA NAS ÁGUAS DAS MONTANHAS. Desde 1997, vem sendo realizado um inventario sobre biodiversidade nas cabeceiras dos rios do Parque Nacional da Serra do Cipó que servirá para fundamentar políticas de conservação e utilização sustentável dos recursos naturais da região. A Serra do Cipó é uma região montanhosa, que engloba um grande número de córregos e riachos com águas límpidas e frias. A serra é um divisor de águas onde, de um lado nascem rios das cabeceiras do rio Doce e do outro rios das cabeceiras do rio São Francisco. A vegetação predominante é a do cerrado na faixa de altitude de 700m a 1000m, campos rupestres acima de 1000m e matas ciliares nas margens de rios. O Departamento de Biologia Geral da UFMG vem estudando as cabeceiras de rios no Parque Nacional da Serra do Cipó com o objetivo de inventariar a biodiversidade aquática das águas. Sua qualidade é avaliada pela medição de parâmetros físicos, químicos e biológicos. Como bioindicadores da qualidade da água tem-se utilizado macroinvertebrados bentônicos - como larvas de insetos aquáticos, moluscos e anelídeos, para que seja possível determinar o grau de preservação ou de poluição dos corpos d'água, pois sua presença está associada a ótima qualidade, ajudando na manutenção dos processos ecológicos de produção, consumo e de matéria orgânica. A coloração dos rios na serra varia de transparente a escura, devido á presença de compostos húmidos resultantes da decomposição incompleta da matéria orgânica oriunda da vegetação. Além disso, devidos aos afloramentos rochosos de quartzo ricos em sílica, os teores de sílica solúvel reativa na água são 50 vezes superiores aos de outros ambientes. Característica importante para o metabolismo das algas diatomáceas que crescem aderidas ás rochas e ao cascalho no fundo dos rios. Nesses substratos há um biofilme (fina camada formada de algas unicelulares, protozoários, rotíferos, bactérias, fungos e leveduras que se desenvolve principalmente em trechos onde o sol consegue iluminar diretamente o fundo do leito. Nesses locais também ocorre o desenvolvimento de musgos do gênero Andreaea e plantas floríferas da família Euriocaulaceae. Essas plantas são provavelmente, as principais produtoras primárias autóctones da serra. As nascentes existentes na serra são exemplos típicos de ambientes aquáticos com ótima "saúde ambiental". OS resultados dos estudos indicam que os córregos preservam características ecológicas de ambientes praticamente livres de influência antrópica. Coletas frequentes continuam sendo feitas em diversos trechos de rios, nas duas vertentes da serra, para descrever a estrutura das comunidades de organismos e sua distribuição nos diversos habitantes existentes. O USO DE BIOINDICADORES Os macroinvertebrados bentônicos têm sido comumente utilizados como bioindicadores de qualidade de água devido a sua sensibilidade à poluição, a mudanças no hábitat e alterações no ambiente. Possuem ciclo de vida com duração mais longa do que a maioria dos organismos aquáticos; tamanho de corpo relativamente grande e facilidade de amostragem no campo. Em rios os macroinvertebrados bentônicos adaptam-se ao fluxo da água do seguinte modo: desenvolvendo adaptações físicas que lhes possibilitam viver em diferentes locais. O estudo de classificação dos hábitos alimentares dos macroinvertebrados bentônicos, por sua vez, permite identificar alterações na composição das guildas (conjunto de organismo de espécies diferentes que se alimentam de um mesmo recurso alimentar) e relacioná-las a mudanças na qualidade da água e no substrato, decorrentes de fontes poluidoras e assoreamentos. A DIVERSIDADE NOS RIOS Um dos fatores relevantes na avaliação da diversidade de habitats aquáticos e a existência de produtores primários autóctones, que são os responsáveis por converter a energia luminosa em energia de ligações químicas, e por isso formam a base das cadeias alimentares aquáticas. Na serra do Cipó as regiões de cabeceira localizam-se em áreas com forte inclinação do terreno, cobertas de vegetação rasteira composta por campos rupestres e com elevada capacidade de armazenamento da água das chuvas. O solo têm muita matéria orgânica e por isso retém grandes quantidades de água , assumindo um aspecto brejoso entre os meses de novembro e março. ESTRATÉGIAS DE VIDA A manutenção do número de indivíduos nas populações de insetos aquáticos deve-se a colonização que ocorre por meio de dois processos principais: vôo compensatório quando as fêmeas voam à montanha para colocar seus ovos -, ou quando as larvas nadam rio acima em direção aos locais onde nasceram. A alta riqueza de espécies nos córregos e rios na Serra do Cipó pode estar relacionada a uma menor disponibilidade de nichos, resultando em interações mais intensas como competição, predação e parasitismo
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Maritza Siqueira Lima